Caminhos

Às vezes nos permitimos ir na contramão da vida, nos colocamos em inércia e esperamos não por um milagre mas por aprendizados. Aí você passa um longo período neste caminho e percebe que existe cada casa linda, belos jardins, de vez em quando entramos em alguma casa e vamos conhecendo encantados os cômodos, neste momento tudo é belo, mágico, promissor, não reparamos em nada além de beleza. Servimo-nos dos melhores drinques, tomamos os mais incríveis cafés, enfim, diante de tanta possibilidade e novidade nem reparamos na sujeira pelos cantos, na poeira em alguns móveis, no cheiro de mofo vindo de uma porta que não atravessamos, olhamos a louça na pia, o lixo a recolher. Uma hora decidimos sair ou somos gentilmente convidados a nos retirar e voltamos ao mesmo caminho da contramão, entramos em outras propriedades e curtimos suas peculiaridades e belezas, mas sempre tem o lixo, o pó, a louça. O mais importante nestes contra caminhos é o que eles nos trazem de referências, os ensinamentos que nos fornecem e neste momento você entende... (escolha o seu caminho)

*que o melhor a fazer é voltar pela estrada já tão conhecida e segura ruma a sua cabana no mato cheiroso onde a lenha do fogão arde, onde você se sente em paz, seguro e reconhece o valor das pequenas coisas, a simplicidade de ser feliz sem aventuras incógnitas o sentido do que é amor.

**que o pó, o lixo, a louça estão em todas as casas, o melhor a fazer é voltar pela estrada já tão conhecida e segura rumo a sua cabana no mato cheiroso onde a lenha do fogão arde, onde você se sente em paz, seguro e reconhece o valor das pequenas coisas, a simplicidade de ser feliz sem aventuras incógnitas o sentido do que é amor e cuidar do seu lixo, louça, pó...

Cleber Almeida

terça-feira, 5 de agosto de 2014 às 07:30 , 0 Comments

Sonho de roça

Sonhos, sombras, murmúrio de rio;
Brisa amena, chiado de folha seca;
Cheiro de capim limão, sabor de felicidade;
Rede embalando o sorriso do moço;
Crianças correndo, cachorro latindo e a galinha d’angola ciscando;
Doce de leite feito no tacho, mugido de boi gordo;
Chão, terra, água, lama, crianças felizes;
Lenha no fogão e o café já está para sair;
Broa de milho batida na lata com banha de porco, a erva doce dá o toque final;
Texturas, cheiros e sabores de um sonho, onde a rede embala o moço feliz, realizado, sentindo, cheirando, saboreando, se empanturrando de gratidão;
O café está pronto, pega um caneco e vem prosear, pega a viola e vamos cantar a moda da satisfação, onde terreno fértil do homem jovem é a esperança e a imaginação.

20/03/09
Cleber Almeida.

sexta-feira, 20 de março de 2009 às 09:45 , 2 Comments

Chuva e bebida “barata”.

Os dentes cravam a pele e marcam a alma,
Os sentidos se esvaem por entre os sussurros;
A dor e o prazer em um misto de arrepios;
A luz turva neste quarto, a fumaça do cigarro e o copo vazio, essa atmosfera inebriante;
O chiado de um letreiro néon velho, os flashes em vermelho em uma parede deste nosso refúgio,
Momentos ínfimos, singelos, simples e ao mesmo tempo de tamanha repercussão, intensos por demais;
O ranger da cama no quarto ao lado, o barulho de garrafas quebrando em algum lugar nem tão distante assim, esse uísque barato, esses lençóis cheios de histórias para contar;
Os vidros da janela embaçados, os pingos de chuva em uma luta incessante contra os mesmos, e lá em baixo os filetes de água a escoarem pelos bueiros que abrigam as baratas e os ratos como este quarto estar a nos abrigar.

19/03/09
Cleber Almeida

quinta-feira, 19 de março de 2009 às 12:23 , 0 Comments

Cor, cheiro, gosto e afins.

Onde azul não é só a cor do mar, aonde brilho não vem só de estrelas e o calor não provem do fogo do sol amarelo;
O ocre da sua pele não é borrado pelo cinza do ar, nem tão pouco contradiz o “preto” dos seus cabelos;
O vermelho do seu sangue anuncia que mais uma vida ainda não vem, anuncia o término e o início de um novo ciclo, infindo, perpétuo, eterno, sempre....
O doce da sua voz, o calor da sua pele tenra norteia minha existência, exprimem tudo em um só ser; em um só som, em nuvens, chuvas, flores, dons;
És doce e feroz, é mãe e mulher, és ávida e morna, é tudo e nada, é minha vida e minha morte; raiz, terra, pedra, pó;
Semente dourada de doçura, cheiro de doce de tacho, água fresca da fonte, luz de lamparina, tudo tão simples e sofisticado, tão belo e tão rústico, tão nova essa velha história, tão simples explicar o quão complicado é descrever tudo que é você.

Cleber Almeida
07/03/2009

sexta-feira, 6 de março de 2009 às 20:24 , 0 Comments

Sem possibilidades de caçar nos tornamos caça!

São quatorze olhos a nos espreitar;
É a sombra escorrendo pelos cantos por todo lado que andamos;
É o bafo de animal acuado e morto de fome, sonhos despedaçados em longas léguas de esperanças;
As mais nobres estirpes de mendigos, altas classes de andarilhos, todos matam sua fome, todos lhe servem de alimento quando nossos senhores nos tiram o provento, nos põem a mercê de nossa própria sorte por não sermos letrados;
Calamo-nos em absoluto temor, por simples falta de argumentos, temos uma revolta velada, somos pó antes de a ele retornar;
E os quatorze olhos do bicho de sete cabeças continuam a nos espreitar.

Cleber Almeida
07-03-2009

às 19:47 , 0 Comments

Achados e perdidos

Eu busco em ti o cheiro da felicidade;
Eu busco em ti o amor cantado pelos bardos;
Busco o querer bem tão gasto pelos poetas;
Busco apenas um porto, um colo, um abrigo;
Eu quero em mim impregnado o cheiro do nosso amor;
Eu quero em mim o som da valsa dos amantes;
Acho o bem querer rascunhado em dispersos blocos;
Acho em ti meu casulo, minha cabana no mato cheiroso;
Enfim ancoro feliz em seu colo, no porto do nosso amor.

Cleber Almeida,
05/01/2009

terça-feira, 20 de janeiro de 2009 às 10:27 , 0 Comments

Visão vazia de uma noite cheia.

Vejo os últimos grãos de areia da ampulheta se enfileirarem para arremessarem-se para baixo, acho que eles nutrem a esperança de se juntarem a maioria, como se a maioria fosse fazer a diferença.
Sinto o tempo se esgotar sem ao menos avistar a linha de chegada, somos muitos que vagam só pelas ruas nuas desta cidade insônia, onde esse excesso de vigília nos atropela.
As luzes das televisões dos apartamentos em um sinuoso balé sincrônico, ilustram o que seria meu horizonte.
Por vezes temos a sensação de que nada vale a pena e nem mesmo um grande amor possa existir. Temos clara e nitidamente a certeza de que existir é inevitável e que coexistir é necessário.
Nos becos, bares e bordéis essa procura incessante acaba sempre com o último gole, no último espasmo de prazer.
Por trás dos imensos caixotes de concretos pode-se avistar a claridade alaranjada do amanhecer, onde os raios de sol penetram as nuvens para fecundar o dia.
E neste exato momento é quando toda a inspiração de todos esses devaneios se esvai e cai no papel aglutinando-se letra por letra, formando uma maioria, chamada texto. Esta maioria sim faz diferença, não é como os grãos de areia da ampulheta.
É a maioria mais homogenia de toda heterogeneidade, mais isso é um outro devaneio.

Cleber Almeida
20/01/2009

às 10:23 , 0 Comments