Visão vazia de uma noite cheia.

Vejo os últimos grãos de areia da ampulheta se enfileirarem para arremessarem-se para baixo, acho que eles nutrem a esperança de se juntarem a maioria, como se a maioria fosse fazer a diferença.
Sinto o tempo se esgotar sem ao menos avistar a linha de chegada, somos muitos que vagam só pelas ruas nuas desta cidade insônia, onde esse excesso de vigília nos atropela.
As luzes das televisões dos apartamentos em um sinuoso balé sincrônico, ilustram o que seria meu horizonte.
Por vezes temos a sensação de que nada vale a pena e nem mesmo um grande amor possa existir. Temos clara e nitidamente a certeza de que existir é inevitável e que coexistir é necessário.
Nos becos, bares e bordéis essa procura incessante acaba sempre com o último gole, no último espasmo de prazer.
Por trás dos imensos caixotes de concretos pode-se avistar a claridade alaranjada do amanhecer, onde os raios de sol penetram as nuvens para fecundar o dia.
E neste exato momento é quando toda a inspiração de todos esses devaneios se esvai e cai no papel aglutinando-se letra por letra, formando uma maioria, chamada texto. Esta maioria sim faz diferença, não é como os grãos de areia da ampulheta.
É a maioria mais homogenia de toda heterogeneidade, mais isso é um outro devaneio.

Cleber Almeida
20/01/2009

terça-feira, 20 de janeiro de 2009 às 10:23

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