Sonho de roça

Sonhos, sombras, murmúrio de rio;
Brisa amena, chiado de folha seca;
Cheiro de capim limão, sabor de felicidade;
Rede embalando o sorriso do moço;
Crianças correndo, cachorro latindo e a galinha d’angola ciscando;
Doce de leite feito no tacho, mugido de boi gordo;
Chão, terra, água, lama, crianças felizes;
Lenha no fogão e o café já está para sair;
Broa de milho batida na lata com banha de porco, a erva doce dá o toque final;
Texturas, cheiros e sabores de um sonho, onde a rede embala o moço feliz, realizado, sentindo, cheirando, saboreando, se empanturrando de gratidão;
O café está pronto, pega um caneco e vem prosear, pega a viola e vamos cantar a moda da satisfação, onde terreno fértil do homem jovem é a esperança e a imaginação.

20/03/09
Cleber Almeida.

sexta-feira, 20 de março de 2009 às 09:45 , 2 Comments

Chuva e bebida “barata”.

Os dentes cravam a pele e marcam a alma,
Os sentidos se esvaem por entre os sussurros;
A dor e o prazer em um misto de arrepios;
A luz turva neste quarto, a fumaça do cigarro e o copo vazio, essa atmosfera inebriante;
O chiado de um letreiro néon velho, os flashes em vermelho em uma parede deste nosso refúgio,
Momentos ínfimos, singelos, simples e ao mesmo tempo de tamanha repercussão, intensos por demais;
O ranger da cama no quarto ao lado, o barulho de garrafas quebrando em algum lugar nem tão distante assim, esse uísque barato, esses lençóis cheios de histórias para contar;
Os vidros da janela embaçados, os pingos de chuva em uma luta incessante contra os mesmos, e lá em baixo os filetes de água a escoarem pelos bueiros que abrigam as baratas e os ratos como este quarto estar a nos abrigar.

19/03/09
Cleber Almeida

quinta-feira, 19 de março de 2009 às 12:23 , 0 Comments

Cor, cheiro, gosto e afins.

Onde azul não é só a cor do mar, aonde brilho não vem só de estrelas e o calor não provem do fogo do sol amarelo;
O ocre da sua pele não é borrado pelo cinza do ar, nem tão pouco contradiz o “preto” dos seus cabelos;
O vermelho do seu sangue anuncia que mais uma vida ainda não vem, anuncia o término e o início de um novo ciclo, infindo, perpétuo, eterno, sempre....
O doce da sua voz, o calor da sua pele tenra norteia minha existência, exprimem tudo em um só ser; em um só som, em nuvens, chuvas, flores, dons;
És doce e feroz, é mãe e mulher, és ávida e morna, é tudo e nada, é minha vida e minha morte; raiz, terra, pedra, pó;
Semente dourada de doçura, cheiro de doce de tacho, água fresca da fonte, luz de lamparina, tudo tão simples e sofisticado, tão belo e tão rústico, tão nova essa velha história, tão simples explicar o quão complicado é descrever tudo que é você.

Cleber Almeida
07/03/2009

sexta-feira, 6 de março de 2009 às 20:24 , 0 Comments

Sem possibilidades de caçar nos tornamos caça!

São quatorze olhos a nos espreitar;
É a sombra escorrendo pelos cantos por todo lado que andamos;
É o bafo de animal acuado e morto de fome, sonhos despedaçados em longas léguas de esperanças;
As mais nobres estirpes de mendigos, altas classes de andarilhos, todos matam sua fome, todos lhe servem de alimento quando nossos senhores nos tiram o provento, nos põem a mercê de nossa própria sorte por não sermos letrados;
Calamo-nos em absoluto temor, por simples falta de argumentos, temos uma revolta velada, somos pó antes de a ele retornar;
E os quatorze olhos do bicho de sete cabeças continuam a nos espreitar.

Cleber Almeida
07-03-2009

às 19:47 , 0 Comments